Lean é uma filosofia de gestão baseada nos conceitos originados do Sistema Toyota de Produção (STP). Esse item da pesquisa aborda os fundamentos da filosofia Lean, suas técnicas, e como se deu a transferência de suas abordagens inicialmente desenvolvidas na indústria automobilística para as demais indústrias, até chegar à indústria da construção civil.
A transferência e adaptações dos conceitos e princípios do Sistema Toyota de Produção (STP) para a construção civil surge nos inícios dos anos 90, tendo como marco principal a publicação do trabalho “Application of the new production philosophy in the construction industry” pelo finlandês Lauri Koskela (LORENZON 2008; BULHÕES, 2009; AZEVEDO et al. 2010; REIS et al. 2017). Neste trabalho o pesquisador argumenta sobre a necessidade de uma teoria de gestão da produção para o contexto da construção. Conforme Formoso (2002), nesse relatório Koskela desafia os profissionais da construção civil a quebrar seus paradigmas de gestão e adaptar as técnicas e ferramentas desenvolvidas com sucesso no STP.
Para Koskela (1992), a Lean Construction é determinada por um conjunto de princípios interligados, devendo ser aplicados de forma integrada na gestão de processos para a obtenção dos resultados esperados. Estes princípios são basicamente: reduzir a parcela de atividades que não agregam valor; aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades dos clientes; reduzir a variabilidade; reduzir o tempo de ciclo; simplificar, através da redução do número de passos ou partes; aumentar a flexibilidade de saída; aumentar a transparência do processo; focar o controle no processo global; introduzir melhoria contínua no processo; manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões; e fazer benchmarking.
Para Ahuja (2012), a produção enxuta se concentra na eliminação de resíduos e maximização da produtividade através do sistema de tração, envolvimento dos trabalhadores, melhoria contínua etc. Pinto (2012) considera que o conceito enxuto é uma das filosofias mais acertadas para o tipo de produção que é a construção, pois retrata através das suas ferramentas formas de controlar os desperdícios e antecipar as incertezas.
Có (2007) atribui outra vantagem do Lean na construção civil que está associada em defesa da sustentabilidade. Para Có, pelo fato de a filosofia promover a redução global dos desperdícios, ao mesmo tempo em que agrega valor às obras, contribui com a sustentabilidade econômica e social.
Segundo Li et al. (2018), o Lean Construction evoluiu ao longo do tempo, através de pesquisas sobre suas teorias e aplicação de suas técnicas. E nesse contexto as descobertas também apontam que o sistema enxuto de construção adiciona um impacto positivo, especialmente na qualidade, segurança, custo, produtividade e nível ambiental (BAJJOU; CHAFI 2018). De acordo com Ahmed (2019) um nível significativo de impactos no meio ambiente pode ser reduzido com a implementação de uma construção enxuta.
Através das concordâncias entre os autores aqui citados como Koskela (1992), Có (2007), Pinto (2012), Ahuja (2012), Li et al. (2018), Bajjou e Chafi (2018) e Ahmed (2019) quanto aos potenciais benefícios das técnicas Lean Construction para a indústria da construção civil, somado aos benefícios que um sistema de gestão integrado incorporando os aspectos gestão qualidade, gestão de meio ambiente, gestão da saúde e segurança do trabalho segue a formulação central do problema da pesquisa: Como desenvolver um sistema de gestão integrando os princípios Lean Construction aos objetivos da gestão da qualidade, meio ambiente, saúde e segurança do trabalho orientado a atender, sobretudo as empresas de pequeno porte da indústria da construção civil.
Entenda o contexto da Indústria da Construção Civil e o por que adoção do Lean Construction e da Gestão da Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde Ocupacional é importante para a melhoria da Gestão dos Empreendimentos.
Historicamente a Indústria da Construção Civil (ICC) está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento econômico[1] de qualquer país no mundo. No Brasil, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), o desenvolvimento e a capacidade de produção do país estão relacionados diretamente com o crescimento desse setor (FIRJAN, 2017). A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2019a) destaca a influência direta e indireta que a construção civil tem na arrecadação do governo, pela sua grande capacidade de geração de empregos em diversos setores da sociedade, contando com mais de 12,5 milhões de postos de trabalho diretos, indiretos e informais. Ainda segundo a pesquisa, o faturamento anual do setor supera R$ 1,1 trilhão. Destaca-se que a cada R$ 100 investidos no setor, R$ 25 voltam para os cofres públicos como impostos.
Nos últimos doze anos, aproximadamente, entre 2008 e 2020, a construção civil no Brasil viveu dois cenários distintos, o primeiro com um significativo processo de expansão no Brasil, com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do setor superando o do país, alto crescimento da indústria com impactos positivos em todos os setores da sociedade, e o segundo cenário com uma crise sem precedentes com início em meados do ano de 2013. O setor da construção civil amargou resultados negativos até 2019, quando voltou a registrar resultados positivos após 5 anos de consecutivas de quedas.
O Brasil mesmo em momentos de crise continua sendo um país em desenvolvimento. Por consequência, não existe crescimento econômico no Brasil sem o crescimento da indústria da construção civil. É conhecida como a cadeia dos 'mil itens'. É um segmento que movimenta todo o mercado. A indústria da construção civil é um pilar para o Brasil voltar a crescer sustentavelmente e voltar a empregar. É um setor que atua em todo o país. O mercado da construção se mostra indispensável para a ampliação da infraestrutura, para a melhoria na qualidade de serviços prestados à sociedade e para a resolução de problemas de caráter econômico e social.
Entretanto outros aspectos e impactos à indústria da construção precisam ser observados. O setor se caracteriza como um dos que mais consomem recursos naturais, desde a produção dos insumos utilizados até a execução da obra e sua operação ao longo de décadas, segundo o US Green Building Council (USCBC, 2013). Segundo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas (SEBRAE) estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas sejam provenientes da construção. Tais aspectos ambientais, somados à qualidade de vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam as relações entre a construção e o meio ambiente (SEBRAE, 2019). A construção civil no Brasil apropria-se de 75% do que é extraído do meio ambiente, consome 21% de toda a água tratada do planeta e que 13,6% são de responsabilidade das edificações (USCBC, 2013). Observa-se o forte impacto da indústria para os aspectos ambientais.
Quantos aos aspectos e impactos a saúde e segurança, a ICC é uma das que apresenta os maiores índices de acidentes de trabalho (AT) e as piores condições de segurança em nível mundial, segundo a Escola Nacional da Inspeção do Trabalho (ENIT, 2017). Segundo o ENIT (2017), esses fatores levam a um dispendioso gasto dos cofres públicos com pagamentos de seguros e indenizações, bem como a altos níveis de invalidez, ferimentos fatais e repercussões psicológicas para trabalhadores e famílias. Segundo dados da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (CANPAT), a ICC ocupa o primeiro lugar em incapacidade permanente, o segundo em mortes (perde só para o transporte terrestre) e o quinto em afastamentos do trabalho com mais de 15 dias. Observa-se o forte impacto da indústria nos aspectos de saúde e segurança do trabalho.
O aspecto qualidade na construção civil também é um dos grandes temas no setor. Segundo Lucio et. al., (2016), a ICC registra altos índices de falhas na administração interna das empresas, a exemplo na gestão dos processos de produção e projetos, na gestão de suprimentos, impactos na gestão da documentação, na gestão do canteiro de obras, na gestão de recursos humanos, no atendimento ao cliente, entre outros.
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Lean Construction integrado à Qualidade, Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho é um Livro desenvolvido a partir de um estudo técnico de engenharia que propões um sistema de gestão integrando os princípios da construção enxuta (Lean Construction) aos aspectos da gestão da qualidade, segurança, meio ambiente e saúde ocupacional (QSMS) para beneficiar a indústria da construção civil com um conjunto de requisitos potenciais para a melhoria de processos organizacionais e processos construtivos. A inovação e o ineditismo apresentam-se em correlacionar os princípios Lean adaptados à construção civil, aos objetivos da gestão de QSMS em um único sistema de gestão, com requisitos desenvolvidos sob o interesse em atender, sobretudo as empresas de pequeno porte da indústria da construção civil.
- 188 páginas - Idioma: Português - Formato: .pdf
- Lean Construction: Conceito, técnicas, princípios e Ferramentas; - Sistema de Gestão da Qualidade, Meio Ambiente, Segurança e Saúde Ocupacional; - Integração dos princípios Lean Construction (LC) aos aspectos da Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Segurança do Trabalho; - Apresentação dos requisitos aprovados Sistema Integrado de Gestão LC-QSMS; - Orientação para implementação e custos do SGI LC-QSMS; - Cronograma de Implementação.
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